sexta-feira, 24 de junho de 2016

Texto retirado do livro "Janelas do tempo Cronicas da cidade de Osvaldo Cruz" do Autor José Alvarenga



Lino Ferrari

Faz aproximadamente 30 anos. Um dia, a tarde, em companhia de Valdecir Siena, estive num pequeno barracão de madeira, construido nos fundos de um quintal da obscura Vila São José.
Alegrei-me em conhecer um homem forte, de pequena estatura, de conversa tranquila e agradável, que habilmente fazia um colchão de capim revestido de tecido barato. Ao terminá-lo, aplicou orgulhosamente uma etiqueta com os dizeres: “Fábrica de Colchoes São José — Osvaldo Cruz”. Sem perda de tempo iniciou a feitura de outro colchão.
Esse homem era Lino Ferrari
Fazia cinco anos que estava morando em Osvaldo Cruz trazido sua família e suas mudança em fins de 1950. Meses antes tinha estado aqui, pela primeira vez visitar seus parentes Eugênio Ferrarezi e Henrique Forte.
Nessa ocasião ficou conhecendo os irmãos José e Bernardino Rosalem, donos de quatro cavaletes, dois estrados de madeira, tesoura, agulhas, outro pertences e uma saldo de tecido que representavam o patrimônio da fábrica de colchões São José que, a todo custo, queriam vender a Lino Ferrari. Este relutava em lutar por dois motivos: primeiro, porque não tinha disponível 13 contos de réis ficaria para a venda e segundo, porque não sabia fazer colchões. Os irmãos Rosalem se propuseram facilitar o pagamento e prometeram que um deles continuaria trabalhando na fábrica para ensiná-lo.
O negócio foi feito.
 "Seu" Lino e família despediram-se de Guariroba, perto de Taquaritinga , onde ele trabalhava na roça com seu pai, cuidando de plantações de café e de cultivo de cereais.
Nove anos antes de mudarem para Osvaldo Cruz, os jovens Lino Ferrari e Maria Forte tinham-se casado.
Tiveram três filhos: Jacira, Valdir e João Olides, todos nascidos em Guariroba.
A primeira residência da família Ferrari, em Osvaldo Cruz, foi uma casa de madeira, ainda existente, à Rua Japão, número 229.
"Seu" Lino e dona Maria abraçaram a nova fase de suas jovens existência dispostos os caminho do futuro, mesmo que precisassem conquista-lo palmo a palmo.
Dona Maria costurava os pano para os colchões. "Seu" Lino colocava capim é fazia os arremates com enormes agulhas retas e outras menores convexas
À noite depois do jantar, "seu" Lino ajudava a dona Maria a costurar os tecidos os dois trabalhavam sem cessar, sem férias, sem descanso cuidando da produção da fábrica, da casa, dos filhos, do futuro.
O capim "favorita" utilizado na faveicação dos colchões na tubo nas terras ruins do Município de Bastos, era transportado em enormes cargas (muito volume e pouco peso) por Armando Rapacci, num Fordinho antigo, barulhento, que andava devagar e que fervia fácil.
Os colchões eram vendidos com facilidade. O lucro obtido era invariavelmente revertido na própria fábrica.
A primeira condução que "seu" Lino possuiu foi uma bicicleta que lhe facilitava a locomoção na cidade e no transporte de pequenos volumes, inclusive de tecidos.
Juntamente com os colchões de capim, passo a fabricar colchões de crina, também vendidos com facilidade.
Pouco tempo depois deu o início á fabricação de colchões de mola 10 por semana, que igualmente deveram ótima aceitação no mercado.
Para atender ao aumento da produção, viu-se forçado a mudar a fábrica para um salão maior. Alugou o prédio de propriedade, na época, de Calil Margi, localizado á Av Getúlio Vargas, 563.
Um dia, "seu" Lino providenciou um mostruário de tecido, confeccionou uma miniatura do colchão de mola de sua fabricação e foi de ônibus até Presidente Prudente tentar a venda á Brasimac. O responsável pelo departamento de compras examinou tudo atentamente. 
Ciente do preso e minuciando o mostruário de tecidos definiu a encomenda:
 - Quero 100 colchões revestido com este tecido, 100 com este, sem com este e sem com este.
Ao todo, um pedido de 400 colchões de mola. Dentro da linha de produção da fábrica, seria necessário um ano para completar a encomenda.
"Seu" Lino manteve-se imperturbável diante do inesperado pedido.
Uma grande alegria tomava conta de seu íntimo.
Aceitou o desafio.
Contratou novos empregados e cumpriu a encomenda rigorosamente dentro do preso e do prazo combinados.
Seus viajantes traziam pedidos em número cada vez maior feito por novos revendedores de grandes e distantes centros do estado, impondo sucessivos aumentos de produção e a consequente contratação de mais empregados.
Seus filhos tinham crescido. Valdir trabalhava na farmácia Kadofarma.
João Olides estudava química em Curitiba. Jacira tinha de casado com o magnífico jovem Irineu Rovina, estimado balconista da filial local das Casas Pernambucanas.
Os pedidos de seus produtos aumentavam continuamente, forçando novos aumentos da produção, maior consumo de matéria-prima e elevação do número de empregados.
Valdir achou que precisava ajudar seu pai. Deixou o emprego da farmácia e passou a trabalhar junto á administração da fábrica. O mesmo aconteceu com o João Olides, que "trancou" a matrícula e também passou a integrar a administração da empresa.
As vendas e a produção continuavam aumentado. 
"Seu" Lino viu-se novamente forçado a mudar a fábrica para outro local, mais amplo, transferiu a para um inadequado, porém espaçoso prédio, também alugado, onde antes funcionava a oficina dos irmãos Shimizu, localidade á Rua Armando Sales, 489.
A conselho de dona Maria, "seu" Lino convidou seu genro Irineu para tornar-se sócio da firma é integrar sua administração, o qual surpresos respondeu lhe:
- Não tenho dinheiro!
- Não faz mal, quando der certo, você vende sua casa e compramos um caminhão, propôs "seu" Lino.
Além dos colchões de capim, de crina e de mola, "seu" Lino passou a fabricar conjuntos estouvados populares para salas de visitas, que tiveram grande aceitação no mercado.
Os pedidos de revendedores passaram a chegar de grandes cidades dos estados vizinhos.
As cabecinhas de alfinetes coloridas, Valdir fincavam no mapa do Brasil, dependurado na parede do escritório da fábrica, indicavam a conquista de novos pontos de revenda em centros urbanos cada vez mais distantes de Osvaldo Cruz, confirmando que a qualidade, o prezo dos produtos e a estratégia de vendas continuavam caminhando em rumos é critérios certos.
O mercado consumidor exigia maior produção da fábrica e esta exigia maior área coberta.
Como o espaçoso e sólito prédio construído por Armado Pontes em frente ao jardim da igreja, para ser o mercado da cidade estava desativado e sendo depredado, "seu" Lino e Irineu foram procurá-lo para manifestar a intenção de compra do mencionado prédio, embora a firma não deve-se dinheiro disponível para transação.
Localizaram Armando Pontes plantando feijão em seu sítio perdi de Salmorão, que afirmou sua disposição em vender o prédio pelo o preso de 25 milhões de Cruzeiros. Sendo "seu" Lino o comprador, facilitava o pagamento (5 milhões de entrada e o restante em 4 prestações iguais de 5 milhões vencíveis de seis em seis meses), sem juros.
-  Tudo bem. Só que eu não tenho os 5 milhões para dar de entrada adiantou "seu" Lino.
- Não faz mal, respondeu Armando Pontes. E prosseguiu: 
- Eu "empresto" os 5 milhões da entrada para o seu meu pagar dois meses depois do vencimento da última prestação, só que acrescido de juros bancários. 
O negócio foi feito. 
A fábrica mudou-se mais uma fez agora em prédio próprio, situado à  Avenida Brasil, 973,  onde continuou a ampliar ocupando os terrenos adjacentes que foram comprados e edificados.
 
16-10-1985
 

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