Lino Ferrari
Faz aproximadamente 30 anos. Um dia, a tarde,
em companhia de Valdecir Siena, estive num pequeno barracão de madeira,
construido nos fundos de um quintal da obscura Vila São José.
Alegrei-me em conhecer um homem forte, de
pequena estatura, de conversa tranquila e agradável, que habilmente fazia um
colchão de capim revestido de tecido barato. Ao terminá-lo, aplicou
orgulhosamente uma etiqueta com os dizeres: “Fábrica de Colchoes São José —
Osvaldo Cruz”. Sem perda de tempo iniciou a feitura de outro colchão.
Esse homem era Lino Ferrari
Fazia cinco anos que estava morando em Osvaldo
Cruz trazido sua família e suas mudança em fins de 1950. Meses antes tinha estado
aqui, pela primeira vez visitar seus parentes Eugênio Ferrarezi e Henrique
Forte.
Nessa ocasião ficou conhecendo os irmãos José e
Bernardino Rosalem, donos de quatro cavaletes, dois estrados de madeira,
tesoura, agulhas, outro pertences e uma saldo de tecido que representavam o
patrimônio da fábrica de colchões São José que, a todo custo, queriam vender a
Lino Ferrari. Este relutava em lutar por dois motivos: primeiro, porque não
tinha disponível 13 contos de réis ficaria para a venda e segundo, porque não
sabia fazer colchões. Os irmãos Rosalem se propuseram facilitar o pagamento e
prometeram que um deles continuaria trabalhando na fábrica para ensiná-lo.
O negócio foi feito.
"Seu"
Lino e família despediram-se de Guariroba, perto de Taquaritinga , onde ele
trabalhava na roça com seu pai, cuidando de plantações de café e de cultivo de
cereais.
Nove anos antes de mudarem para Osvaldo Cruz,
os jovens Lino Ferrari e Maria Forte tinham-se casado.
Tiveram três filhos: Jacira, Valdir e João
Olides, todos nascidos em Guariroba.
A primeira residência da família Ferrari, em
Osvaldo Cruz, foi uma casa de madeira, ainda existente, à Rua Japão, número
229.
"Seu" Lino e dona Maria abraçaram a
nova fase de suas jovens existência dispostos os caminho do futuro, mesmo que
precisassem conquista-lo palmo a palmo.
Dona Maria costurava os pano para os colchões. "Seu"
Lino colocava capim é fazia os arremates com enormes agulhas retas e outras
menores convexas
À noite depois do jantar, "seu" Lino
ajudava a dona Maria a costurar os tecidos os dois trabalhavam sem cessar, sem
férias, sem descanso cuidando da produção da fábrica, da casa, dos filhos, do
futuro.
O capim "favorita" utilizado na
faveicação dos colchões na tubo nas terras ruins do Município de Bastos, era
transportado em enormes cargas (muito volume e pouco peso) por Armando Rapacci,
num Fordinho antigo, barulhento, que andava devagar e que fervia fácil.
Os colchões eram vendidos com facilidade. O
lucro obtido era invariavelmente revertido na própria fábrica.
A primeira condução que "seu" Lino
possuiu foi uma bicicleta que lhe facilitava a locomoção na cidade e no
transporte de pequenos volumes, inclusive de tecidos.
Juntamente com os colchões de capim, passo a
fabricar colchões de crina, também vendidos com facilidade.
Pouco tempo depois deu o início á fabricação de
colchões de mola 10 por semana, que igualmente deveram ótima aceitação no
mercado.
Para atender ao aumento da produção, viu-se
forçado a mudar a fábrica para um salão maior. Alugou o prédio de propriedade,
na época, de Calil Margi, localizado á Av Getúlio Vargas, 563.
Um dia, "seu" Lino providenciou um
mostruário de tecido, confeccionou uma miniatura do colchão de mola de sua fabricação e foi de ônibus até Presidente Prudente tentar a venda á Brasimac. O
responsável pelo departamento de compras examinou tudo atentamente.
Ciente do preso e minuciando o mostruário de
tecidos definiu a encomenda:
- Quero
100 colchões revestido com este tecido, 100 com este, sem com este e sem com
este.
Ao todo, um pedido de 400 colchões de mola. Dentro
da linha de produção da fábrica, seria necessário um ano para completar a
encomenda.
"Seu" Lino manteve-se imperturbável
diante do inesperado pedido.
Uma grande alegria tomava conta de seu íntimo.
Aceitou o desafio.
Contratou novos empregados e cumpriu a
encomenda rigorosamente dentro do preso e do prazo combinados.
Seus viajantes traziam pedidos em número cada
vez maior feito por novos revendedores de grandes e distantes centros do
estado, impondo sucessivos aumentos de produção e a consequente contratação de
mais empregados.
Seus filhos tinham crescido. Valdir trabalhava
na farmácia Kadofarma.
João Olides estudava química em Curitiba. Jacira
tinha de casado com o magnífico jovem Irineu Rovina, estimado balconista da
filial local das Casas Pernambucanas.
Os pedidos de seus produtos aumentavam
continuamente, forçando novos aumentos da produção, maior consumo de
matéria-prima e elevação do número de empregados.
Valdir achou que precisava ajudar seu pai.
Deixou o emprego da farmácia e passou a trabalhar junto á administração da
fábrica. O mesmo aconteceu com o João Olides, que "trancou" a
matrícula e também passou a integrar a administração da empresa.
As vendas e a produção continuavam aumentado.
"Seu" Lino viu-se novamente forçado a
mudar a fábrica para outro local, mais amplo, transferiu a para um inadequado,
porém espaçoso prédio, também alugado, onde antes funcionava a oficina dos
irmãos Shimizu, localidade á Rua Armando Sales, 489.
A conselho de dona Maria, "seu" Lino
convidou seu genro Irineu para tornar-se sócio da firma é integrar sua
administração, o qual surpresos respondeu lhe:
- Não tenho dinheiro!
- Não faz mal, quando der certo, você vende sua
casa e compramos um caminhão, propôs "seu" Lino.
Além dos colchões de capim, de crina e de mola,
"seu" Lino passou a fabricar conjuntos estouvados populares para salas
de visitas, que tiveram grande aceitação no mercado.
Os pedidos de revendedores passaram a chegar de
grandes cidades dos estados vizinhos.
As cabecinhas de alfinetes coloridas, Valdir
fincavam no mapa do Brasil, dependurado na parede do escritório da fábrica,
indicavam a conquista de novos pontos de revenda em centros urbanos cada vez
mais distantes de Osvaldo Cruz, confirmando que a qualidade, o prezo dos
produtos e a estratégia de vendas continuavam caminhando em rumos é critérios
certos.
O mercado consumidor exigia maior produção da
fábrica e esta exigia maior área coberta.
Como o espaçoso e sólito prédio construído por
Armado Pontes em frente ao jardim da igreja, para ser o mercado da cidade
estava desativado e sendo depredado, "seu" Lino e Irineu foram
procurá-lo para manifestar a intenção de compra do mencionado prédio, embora a
firma não deve-se dinheiro disponível para transação.
Localizaram Armando Pontes plantando feijão em
seu sítio perdi de Salmorão, que afirmou sua disposição em vender o prédio pelo
o preso de 25 milhões de Cruzeiros. Sendo "seu" Lino o comprador,
facilitava o pagamento (5 milhões de entrada e o restante em 4 prestações
iguais de 5 milhões vencíveis de seis em seis meses), sem juros.
- Tudo
bem. Só que eu não tenho os 5 milhões para dar de entrada adiantou
"seu" Lino.
- Não faz mal, respondeu Armando Pontes. E
prosseguiu:
- Eu "empresto" os 5 milhões da
entrada para o seu meu pagar dois meses depois do vencimento da última
prestação, só que acrescido de juros bancários.
O negócio foi feito.
A fábrica mudou-se mais uma fez agora em prédio
próprio, situado à Avenida Brasil, 973, onde continuou a ampliar ocupando os terrenos
adjacentes que foram comprados e edificados.
16-10-1985